Magda Zanoni |
Entrevista
especial com Magda Zanoni, membro da Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança – CTNBio, na qual representa o Ministério do Desenvolvimento
Agrário – MDA.
Embora
tenha crescido a produção de transgênicos no mundo, não é possível comprovar os
benefícios agrícolas e econômicos da transgenia. De acordo com a organizadora
do livro Transgênicos para quem? Agricultura, Ciência, Sociedade (Brasilia:
Nead, 2011), o tema ainda não é consenso entre os cientistias. “Enquanto a
Monsanto faz estudos de impacto em um prazo mínimo, com um número reduzido de
animais que alimentam-se de transgênicos, há cientistas como Gilles-Eric
Serralini, que realizam estas pesquisas há vários anos, tendo já obtido
resultados sobre as modificações fisiológicas dos animais de experimento que
corroboram com a presença de riscos”, aponta.
Defensora
de uma ciência cidadã, Magda Zanoni argumenta que os novos estudos científicos
devem considerar “as necessidades reais da população em termos de saúde e
alimentação”. Em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail, ela informa
que atualmente quatro milhões de pessoas morrem de malária no mundo e,
portanto, a transgenia não deve ser prioridade. E reitera: “A sociedade civil
deve ter um papel preponderante na escolha das linhas de pesquisa e das
inovações tecnológicas”.
Magda
Zanoni é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutora em Sociologia pela Université Paris I. Atualmente é
funcionária da Université de Paris X, e da Universite de Bordeaux II e é membro
da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, na qual representa o
Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. Também é pesquisadora do Núcleo de
Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead) do MDA. Magda Zanoni e Gilles
Ferment lançaram recentemente o livro Transgênicos para quem? Agricultura,
Ciência, Sociedade (Brasilia: Nead, 2011).
Confira
a entrevista.
IHU On-Line – A partir da afirmativa de
que é preciso debater para se construir uma ciência democrática, que aspectos a
senhora destaca como primordiais para o uso dos transgênicos de forma
sustentável e em benefício da sociedade?
Magda Zanoni – A questão dos transgênicos
ainda não foi discutida com a sociedade civil. Os transgênicos utilizados na
agricultura não provam que a maioria dos agricultores familiares e camponeses
do mundo seja beneficiada economicamente. Além disso, não há constatações de
que a transferência de genes promovida pelas grandes multinacionais como a
Monsanto e a Syngenta, que criam novos seres vivos, não tenha impactos sobre a
saúde e o meio ambiente. A ciência cidadã leva em conta as necessidades reais
da população em termos de saúde e alimentação. Os investimentos nessa
biotecnologia não são destinados para eliminar a fome no mundo nem para
resolver as exigências de saúde das populações mais necessitadas.
IHU On-Line – Em seu livro, a senhora
apresenta um enfoque multidisciplinar para entender os embates em torno do tema
dos transgênicos. Como vê a produção de organismos geneticamente modificados
(OGMs)?
Magda Zanoni – O Brasil e o governo
brasileiro devem fazer uma listagem das principais pesquisas científicas e
inovações tecnológicas essenciais para promover um desenvolvimento sustentável
com igualdade. Isso pode ser feito através de consultas, debates setoriais,
locais, regionais e nacionais, como, aliás, já foi feito no primeiro mandato do
governo Lula.
IHU On-Line – Por que a sociedade civil
tem um papel tão importante no debate sobre o uso dos transgênicos?
Magda Zanoni – A sociedade civil deve ter
um papel preponderante na escolha das linhas de pesquisa e das inovações
tecnológicas. Há quatro milhões de indivíduos morrendo de malária no mundo por
ano. Portanto, a escolha prioritária não pode ser para os transgênicos?
IHU On-Line – Quais os principais riscos
do uso de transgênicos?
Magda Zanoni – A contaminação de cultivos
com variedades crioulas tem consequências direta sobre a redução da
agrobiodiversidade. Os mecanismos internos que a biologia molecular e a
genética estudam para a transferência de genes e a criação de novos seres vivos
não encontram, no mundo da ciência, unanimidade. Enquanto a Monsanto faz
estudos de impacto em um prazo mínimo, com um número reduzido de animais que se
alimentam de transgênicos, há cientistas, como Gilles-Eric Serralini, que
realizam essas pesquisas há vários anos, tendo já obtido resultados sobre as
modificações fisiológicas dos animais de experimento que corroboram com a presença
de riscos.
Não
é por acaso que cientistas cidadãos, que comunicam seus resultados a
organizações da sociedade civil, sejam marginalizados ou depreciados no mundo
da tecnociência. O presidente da CTNBio, em sessão plenária, declarou que seus
trabalhos estavam ultrapassados.
IHU On-Line – Como avalia a liberação
comercial de sementes transgênicas? Existe aí um risco de consumo? Por quê?
Magda Zanoni – Há risco de consumo de
transgênicos porque inexistem estudos epidemiológicos que comprovem a não
existência de riscos. Se os laboratórios de medicamentos levam até dez anos
para pesquisar os benefícios e riscos de medicamentos originários da
transgênese, é de se perguntar as razões de tanta pressa das multinacionais
para liberar a comercialização de produtos transgênicos. Convém salientar que o
mercado da soja no Brasil já corresponde a 80% do total, e quatro
multinacionais estão batalhando para obter o mercado mundial de sementes.
IHU On-Line – Como avalia a questão da não
obrigatoriedade de rotulagem dos produtos que contêm ingredientes geneticamente
modificados? Que consequências podem ocorrer com a possível perda do direito de
saber se o alimento que se está consumindo contém ou não ingredientes
transgênicos?
Magda Zanoni – Em primeiro lugar, essas são
questões sobre a democracia. Por que não se aplica uma lei se ela foi votada
pelo Parlamento? Os deputados não são os representantes do povo? Em segundo
lugar, a liberdade também está em questão. Qual é o princípio democrático que
não aprova a livre escolha do consumidor em comprar qualquer produto sabendo o
que compra? Em vários países europeus a rotulagem foi objeto de grandes
reivindicações. A França, por exemplo, votou a obrigação de rotulagem em
dezembro de 2010 em função das pressões dos movimentos sociais.
Fonte: IHU On-Line/EcoAgência
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