Publicidade transmite ideia errada sobre nutrição, dizem especialistas
Na
Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, uma pesquisa mostra que peças
publicitárias de alimentos na televisão induziram diversas crianças a
acreditar que esses produtos eram bons e saudáveis. O estudo também
acompanhou os anúncios exibidos e aponta que nenhum deles mostra
alimentos saudáveis. O nutricionista Alexander Marcellus, que realizou o
trabalho, defende que o Congresso Nacional regulamente a publicidade de
alimentos para crianças, que não possui lei ampla sobre esse assunto no
Brasil.
Entre as crianças, 40% assistem mais de 6 horas de televisão nos fins de semana
Participaram
do trabalho 15 crianças de 10 a 12 anos e 15 mães, entrevistados para
avaliar a maneira como percebem a publicidade de produtos alimentícios
na televisão. Também foi analisada a programação dos dois canais de
maior audiência para o público infantil, de segunda à sexta-feira.
—
Entre as crianças pesquisadas, 26% viam mais de 3 horas de televisão
durante a semana, e 40% assistiam 6 horas ou mais no final de semana —
conta Alexander.
O
tipo de alimento mais veiculado foi o fast-food, também apontado como o
preferido pelas crianças, ao lado dos refrigerantes e dos produtos
lácteos.
—
Elas possuem uma memória voltada para aquilo que aparece na televisão —
diz o nutricionista. — Embora já diferenciem a propaganda do restante
da programação, sentem vontade de consumir os produtos e pedem aos pais
para comprar.
Nenhum dos alimentos anunciados no período acompanhado pela pesquisa é considerado saudável, aponta Alexander.
—
A publicidade transmite uma ideia errada sobre a qualidade nutricional,
ludibriando crianças que alimentos ricos em açúcar ou gorduras são
saudáveis, por exemplo — afirma. O pesquisador relata que em alguns
casos, apesar da veiculação de informações verdadeiras, não há
honestidade nos anúncios, o que fere a ética publicitária. — Mostra-se
que um suco de frutas não tem conservantes, mas é omitida a presença de
outros aditivos que podem ser prejudiciais à saúde.
Influência
As mães entrevistadas na pesquisa não souberam identificar os publicitários como responsáveis pelos anúncios de alimentos.
—
Entretanto, 40% não concordam que a publicidade tenha que ter apelo à
criança — observa Alexander. — É importante resssaltar que os pais não
apenas estão entre os responsáveis pelos hábitos alimentares dos filhos
como também servem de influência, por isso, precisam de orientação.
Alexander
alerta que o Brasil é um dos poucos países do mundo que não possuem
regulamentação séria sobre a publicidade de alimentos e bebidas para
crianças até 12 anos.
—
A lei deve vir em respeito à fase de formação da criança, que está
compreendendo o mundo em sua volta para se comportar como consumidor —
destaca. — No último dia 17 de dezembro, mais 50 entidades da sociedade
civil lançaram a Frente pela Regulamentação da Publicidade de Alimentos,
para reivindicar junto ao Poder Público a regulamentação do tema.
A
publicidade institucional do governo federal é outro caminho apontado
pelo nutricionista para incentivar o consumo de alimentos saudáveis.
—
Anualmente são gastos 6 bilhões de reais em publicidade, sendo que com
apenas 1% desse valor seria possível colocar seis inserções semanais na
televisão de anúncios mostrando os benefícios de alimentos como frutas,
verduras e legumes — calcula Alexander. — O governo tem a obrigação não
só de educar como de cuidar da saúde das crianças.
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