A comida saudável ainda é cara, mas tem muito mais gente comprando. Veja também qual é o segredo de Boulder: a cidade mais feliz e saudável de todo os Estados Unidos.
No país das calorias, Boulder, no Colorado, é uma ilha. Tem algo diferente nessa cidade. Colorado é o estado mais magro dos Estados Unidos.
O desenvolvedor de negócios Tom Wyman tinha uma vida sedentária quando foi para Boulder, há 18 anos. Logo, ele viu que as coisas teriam que mudar. “Você se dá conta de que os amigos, em vez de te convidarem para sair para jantar, eles te convidam para uma caminhada ou eles te convidam para esquiar ou para uma corrida”, explica.
Ou seja, era se mexer ou ficar isolado na cidade em movimento. “Eles convidavam: ‘vocês querem ir esquiar conosco?’ Era um pouco assustador, minha mulher e eu queríamos, mas tínhamos medo de não conseguir acompanhar o ritmo. Então, decidimos treinar primeiro”, conta.
Uma pesquisa divulgada no início deste ano nos Estados Unidos classificou Boulder como a cidade mais feliz e saudável de todo o país. Por coincidência, justamente quando passamos pela cidade sai na capa do jornal que Boulder ganhou mais um título. Agora, ela é a número um em pessoas que decidiram ir para o trabalho pedalando.
Até o nosso amigo Tom Wyman deixa o carro na garagem, acompanha as filhas até a escola e põe força no pedal. O excesso de peso ficou pelo caminho. E as montanhas que rodeiam a cidade são estímulo puro para nunca mais ficar jogado no sofá. “Toda vez que eu olho para elas, eu penso nas trilhas que existem lá”, diz Tom.
Às 17h30, nos Estados Unidos, a maior parte das pessoas já saiu do trabalho e voltou para casa. Só que em Boulder, isso não acontece, é diferente. Os carros que passam durante esse horário na cidade chegam a um estacionamento. Grande parte da população aproveita este horário para caminhar nas montanhas.
Empresas adotam as trilhas. A prefeitura comprou as áreas verdes em volta da cidade para fazer parques e área livre, e impede que os moradores ocupem as encostas.
Boulder tem pelo menos 300 dias de sol por ano. “Se você vier para o parque todos os dias por 45 minutos, você pode começar a ver perda de peso em duas ou três semanas”, garante Adam. “Dizemos que, desse jeito, todo mundo vai querer se mudar para a cidade. Nós estamos esperando”.
Foi em uma dessas trilhas da montanha que encontramos o aposentado Robert Ewen, um ciclista bem humorado de 72 anos. Ele conta que já conseguiu pedalar até 150 quilômetros em um só dia. “Dez anos atrás, eu olhei em volta e vi dois tipos de pessoas que chegam aos 80: os em forma e os acabados. Eu disse, ‘eu vou para o lado dos que estão em forma’”, lembra.
A professora Loretta Dipietro, da Escola de Saúde Pública da Universidade George Washington, diz que a natureza ajuda. Mas os títulos que Boulder ostenta estão diretamente relacionados com as pessoas que escolheram este lugar para viver.
“Um dos nossos maiores desafios de saúde, hoje, é conseguir fazer as pessoas se moverem mais durante o dia. Devido às tecnologias modernas, estamos gastando um número significamente menor de calorias por dia”, alerta a professora.
Muitos americanos de outras partes do país ficam até 12 horas por dia sentados. A transformação de Boulder na cidade mais saudável dos EUA começou nos anos 60 e 70, quando os hippies se mudaram para a cidade, bucando uma vida mais natural. “As pessoas aqui têm muita consciência sobre o que comem. Quando a gente se mudou para cá, não sabíamos disso. Então, quando convidávamos alguém para jantar e havia alguma comida que não era saudável, eles comentavam mesmo”, conta.
No sábado de manhã a maior feira fica sempre movimentada. No local, as pessoas talvez nem saibam, mas estão seguindo mais uma das dicas de Harvard para a boa saúde: coma mais frutas e verduras. Escolha cores variadas e diferentes, como verde escuro, amarelo, laranja e vermelho.
No meio de tantos vejetais, imagine a difícil tarefa de tentar vender carne vermelha. É o que propõe o fazendeiro Frank Silver, que só cria gado orgânico. Um solitário e bravo bno meio de tanta verdura. “Às vezes, é difícil, a gente produz algo que eles não gostam ou não querem. É um desafio”, diz.
A Escola de Saúde de Harvard aconselha reduzir o consumo de carne vermelha. “Devemos escolher fontes saudáveis de proteínas, concentrar mais em feijões, nozes, e outras fontes como peixes e aves”, aconselha o nutrólogo Walter Willet.
Na cidade que adora comida vegetariana, que tal tentar achar o velho e bom hambúrguer? Tudo na cozinha de uma pequena lanchonete parece, mas não é. E já enganou muita gente.
“Nós tivemos um cliente que veio umas três ou quatro vezes e pedia o hambúrguer de frango. Na quarta vez em que ele esteve aqui, um amigo falou que o lugar era vegetariano, e ele não simplesmente não acreditou que não era frango”, relata Timothy Gargiulo, sócio da lanchonete.
O dono do lugar quer acabar de vez com a ideia de que comida vegetariana nunca tem gosto bom. Mas o que será que tem no hambúrguer que enganou o cliente?
“Tem aproximadamente seis tipos de proteínas vegetais combinadas para fazer o hambúrguer de frango. É uma receita secreta. Não revelamos”, brinca Timothy.
Lá na feira, o agricultor Wyatt Barnes acha que é mesmo muito difícil convencer a maior parte dos americanos a comer algo simplesmente por causa dos efeitos benéficos para a saúde. Certamente, o preço não ajuda. Uma cestinha de tomates coloridos custa o equivalente a quase R$ 9. É caro demais. Wyatt conta que não consegue produzir o ano inteiro.Ele só colhe os tomantes quatro semanas por ano.
“Nós recusamos pedidos de 50 restaurantes este ano. No mercado, as pessoas nos davam os cartões e diziam: ‘me liga’. Simplesmente não conseguimos atender aos pedidos”, diz.
Em dez anos, o mercado de orgânicos nos Estados Unidos cresceu de US$ 1 bilhão para US$ 25 bilhões. A comida saudável ainda é cara, mas tem muito mais gente comprando.
“Acho que muitas pessoas pensam em vida saudável como escolhas difíceis, comer comida que não tem gosto, sem graça. Acho que as pessoas aqui encontraram um jeito tornar tudo divertido”, conclui o desenvolvedor de negócios Tom Wyman.
Nenhum comentário:
Postar um comentário