Passou a época em que o mercado natural de alimentos era considerado ‘coisa de hippie’. Cada vez mais, os orgânicos têm conquistado público diversificado e espaço em supermercados e bancas de feira. A preferência por frutas, verduras, cereais e itens de origem animal produzidos sem uso de agrotóxicos, fertilizantes e hormônios químicos revela a maior preocupação dos consumidores com a qualidade de vida - mesmo que para isso precisem pagar um pouco mais caro.
De acordo com pesquisa realizada pela ONG Organics Brasil, que reúne empresas exportadoras de produtos orgânicos, as vendas do setor no Brasil alcançaram R$ 350 milhões em 2010. O valor é 40% superior ao registrado em 2009. No Rio Grande do Norte, a produção embora voltada para o consumo interno, registrou aumento de quase 400% de área cultivada no mesmo período, segundo dados da Superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no Estado. Entre as principais culturas se destacam a castanha de caju, a cana de açúcar e o abacaxi, produzidas organicamente por empresas de grande porte, e o setor de hortaliças e leguminosas, tocadas pelo trabalhador rural, organizados em associações. O Ministério não tem contabilizado o volume produzido .
O crescimento se deve ainda a regulamentação do cultivo, por meio da lei número 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Desde janeiro desse ano, quem produz de forma sustentável e livre de agrotóxicos precisa, obrigatoriamente, está certificado junto ao MAPA, com um segundo selo. Antes apenas um selo era emitido pelas empresas certificadoras, fiscalizadas pelo ministério.
Apesar das punições previstas, como multa e apreensão de material, o número de produtores que passaram a oferecer o produto com os dois selos no Rio Grande do Norte ainda é mínimo. Somente 40 produtores estão habilitados, destes 27 de venda direta, ou seja, pequenos agricultores.
Mais que a legislação, pontua o superintendente federal do MAPA José Teixeira, a sobrevivência de mercado dos produtores no sentido de estar em dia com a exigência do consumidor é a mola que impulsiona o setor. “É um mercado com avanço expressivo devido a demanda, a conscientização da sociedade por produtos mais saudáveis e por restrição dos transgênicos e dos aditivos”.
E se engana quem pensa que pra ser orgânico, o alimento precisa somente ser livre de agrotóxicos. Para obter o selo de qualidade, é preciso obedecer alguns critérios de manejo orgânico do solo (sem fertilizantes químicos), diversidade de culturas, contratar mão-de-obra com carteira assinada, além de responsabilidade social e ecológica. “Há a idéia que basta não usar o agrotóxico. Mas se explorar trabalho infantil no cultivo ele não é reconhecido”, observa o diretor da Divisão de Políticas Agrícolas do Ministério Jonas Sena. Essas exigências, explica Sena, tem contribuído para que o número de trabalhadores registrados ainda seja baixo.
Alimentação saudável e mais cara
Se compararmos os gastos entre os produtos orgânicos e convencionais, veremos que a saúde tem preço, sim, e é bem mais caro. As maiores diferenças são registradas em aves e carnes. O quilo do frango criado sem antibióticos e hormônios de crescimento é em média R$ 18,00, o que daria para comprar 4,5 quilos do criado sem esses cuidados (R$ 4,00).
O custo corresponde aos investimentos e exigências legais para o cultivo, tais como contratar empresa certificadora para o selo, gastos com empregos de carteira assinada, análise de solo e água, embalagens apropriadas.
Mas o preço tende a diminuir ao longo do tempo, acordo com o engenheiro agrônomo e produtor orgânico Leonardo Lorenzon, uma vez que fica isento de insumos caros, como defensivos químicos. Há dez anos, ele cultiva hortaliças, frutas e verduras em Parnamirim, Nísia Floresta e Jandaíra.
O preço final repassado ao consumidor, segundo Lorenzon, chega a variar de 10 a 20% entre o caminho do sítio à gondola dos supermercados, a depender do perfil do supermercado e principalmente e a sazonalidade de algumas culturas, uma vez que, além de época, o plantio orgânico obedece a períodos de descanso do solo.
Consumidora de longa data, a comerciante Diosete Barbalho, 44, conta que oferecer saúde no prato é mais barato que arcar com despesas em médicos e medicamentos. “No final, não pesa tanto assim. Ao contrário, compensa”. Há cerca de cinco anos, os produtos sem agrotóxicos tem a preferência no carrinho de compra.
“Apesar do valor mais alto, a saída só aumenta. Se paga pela preservação da saúde”, diz o vendedor Roberto Silva. Um corte de carne orgânica embalada à vácuo tem validade de até um ano. No outro tipo, o prazo é de apenas três meses. A alface orgânica (em média R$ 1.60, o maço) chega a ser duas vezes e meia mais cara que a convencional (R$ 0,69, em média).
Para a juíza Janaína Vasco, há ainda a vantagem de conhecer a procedência do produto.
Precursor acha que ainda há muito para avançar
A visão empreendedora de obter bons negócios com agricultura sem contaminação e produzida com responsabilidade ambiental e social, é assunto antigo na cartilha do americano Hemil Antony Peter, 91 anos. Um dos pioneiros da agricultura orgânica aqui no Estado, ele é otimista quanto a expansão do mercado. “O RN tem alto potencial para agricultura orgânica falta especializar e democratizar o conhecimento, para que o Estado seja também um grande produtor”.
Segundo ele, para atingir maior competitividade com o dito convencional, o alimento orgânico depende de mais investimento em educação. “O mercado se abrirá proporcionalmente à conscientização da sociedade pelos benefícios para o organismo e para o meio ambiente”. Hemil defende uma política de educação alimentar nas escolas, que trate na teoria e na prática da produção sustentável .
Desde 1974, o engenheiro e ex-oficial de guerra dos Estados Unidos que atuou em Natal durante a Segunda Guerra Mundial, desenvolve técnicas de cultivo sem defensivos agrícolas e de conscientização dos trabalhadores rurais em São Gonçalo do Amarante. O sítio sediou o projeto Nebraska, que tornou-se associação em 1983 e tinha por finalidade promover o desenvolvimento integrado em comunidades rurais do Rio Grande do Norte de um modo de vida social, econômica e ecologicamente sustentável através de um sistema em que os donos eram os próprios trabalhadores.
A novidade no modelo de gestão é apontado pelo idealizador, como responsável pela falta de êxito. “Estávamos muito a frente da visão da época e havia resistência em se organizar sem a figura do patrão”.
Supermercados do RN apostam nos orgânicos
Para mensurar a ampliação do setor, basta observar o movimento em feiras e supermercados. O tamanho da gôndola ou do espaço reservado aos produtos orgânicos servem de medidor. A variedade vai desde folhas, grãos, carne vermelha, aves e até vinhos. Tudo para atender aos anseios de vida mais saudável.
O segmento já responde a 10% do público, estima o diretor superintendente da rede de supermercados Nordestão Manoel Etelvino. E nas lojas da rede apresentou crescimento de 50% entre 2009 e 2010.“São produtos de larga aceitação pelos benefícios. Geralmente quem consome são pessoas mais bem informadas e que primam por qualidade de vida quem busca”, define Etelvino.
Para orientar sobre as vantagens do consumo para o organismo e sustentabilidade, a rede passará a oferecer em três lojas, a partir de março, consultoria de nutricionistas aos consumidores. Para popularizar também o preço, o empresário ressalta a necessidade e incentivos por parte das esferas de governo, no sentido de fomentar a produção no Estado. “Hoje a carne bovina, o frango, ovos e leites orgânicos vem do sul e sudeste, quando sabemos que o Estado tem potencial para também produzir”, analisa. A rede conta ao todo com 17 fornecedores de produtos orgânicos certificados
Fonte: http://www.e-campo.com.br/Conteudo/Noticias/VisNoticias.aspx?ch_top=5980&Painel=1&
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