sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Observatório faz diagnóstico dos agrotóxicos


José Rocher, da Gazeta do Povo
   
Um observatório do mercado internacional de agrotóxicos foi criado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para revelar em detalhes as relações do setor e orientar a política do Brasil enquanto maior consumidor do mundo desses produtos. Os primeiros dados indicam forte crescimento na produção e na importação e descontrole do país sobre esse fenômeno, que é economicamente positivo, mas que preocupa pelo impacto ambiental e pela relação com a saúde pública mundial.
De um total de 2 mil produtos agroquímicos registrados no Brasil, apenas 780 estão à venda, mostra estudo da UFPR. Fabricantes dizem que liberações demoram muito e que fórmulas” vencem” antes de chegarem ao mercado
“Muitos produtos entram no país registrados na categoria de ‘outros’. A regularização está ocorrendo agora e vai mostrar dados surpreendentes”, afirma o professor Victor Pelaez, líder do grupo de dez pesquisadores que trabalha no programa, do De­partamento de Economia. Sem códigos específicos, não é possível medir a entrada de cada formulado, aponta. O estudo recorreu ao banco de dados de comércio das Nações Unidas, o Comtrade, para aferir estatísticas gerais.
O trabalho foi encomendado pela Agência Nacional de Vigi­lância Sanitária (Anvisa), órgão do Ministério da Saúde – um dos três controladores dos agrotóxicos no país, ao lado dos Mi­­nistérios da Saúde e do Meio Ambiente. A Anvisa alega sofrer forte pressão para liberação de novos produtos e contra a revisão de 14 registros. Com os primeiros resultados da pesquisa em mãos, o diretor da agência, José Álvares, pediu maior comprometimento da indústria.
O Brasil ampliou a produção e está entre os cinco maiores importadores de agrotóxicos. Gasta cerca de US$ 3,5 bilhão por ano no exterior só com produtos técnicos e formulados. Esse valor vem se multiplicando nesta década. Dependendo do critério de análise, a participação brasileira vai de 5% a 16% do mercado internacional. Esses índices abrangem a produção nacional, que também cresce a passos largos, com investimentos milionários das multinacionais em fábricas e pesquisas dentro do país.
As indústrias preferem discutir o assunto através das organizações que representam o setor. Os números não diferem muito dos apresentados pela UFPR. Contratada pela As­­sociação Nacional de Defesa Vegetal, a Andef, a consultoria alemã Kleffmann Group concluiu ano passado que o país gastou US$ 7,1 bilhões na compra de agrotóxicos em 2008 – US$ 600 milhões a mais que os Estados Unidos, primeiro colocado até 2007. Para a Andef, é preciso relativizar a liderança. Se for considerado o consumo por hectare, o Brasil ainda usa menos agrotóxicos que o Japão, onde os produtores gastam até dez vezes mais com defensivos agrícolas em áreas de tamanhos similares. O Sindicato Nacional da In­­dústria para a Defesa Agrícola (Sindag) informa que, em 2009, o gasto com defensivos caiu 7% no Brasil, para US$ 6,6 bilhões. No entanto, em volume, houve aumento de 7,6%, de 986 mil para 1,06 milhão de toneladas.
Os técnicos das indústrias argumentam que, por ser um país tropical, com uma diversidade agroclimática bem maior que a dos outros importantes produtores agrícolas, o Brasil precisa de mais agrotóxicos para controlar insetos, fungos e ervas daninhas. “O aumento da produtividade verificado no país só vem sendo alcançado graças às novas tecnologias, que incluem o uso de defensivos mais eficientes”, disse um agrônomo que atua no Paraná e no Cerrado, e preferiu não se identificar. Na safra passada, o crescimento foi de 1,6 quilos de agrotóxicos por hectare, para 22,3 kg/ha.
Os estudos da UFPR devem se tornar permanentes a partir de agora. Uma das questões que os pesquisadores vão tentar desvendar é o impacto do mercado de registros no setor. “Quando uma empresa consegue registrar um produto no Brasil, suas ações sobem”, frisa Pelaez. Ele afirma que esse estudo é essencial para que o país avalie sua atuação na liberação de novos produtos. A pressa das indústrias, relacionada à necessidade dos produtores de adotar as tecnologias mais eficientes disponíveis, também tem seu lado financeiro, observa.

Fonte: http://www.jornaldelondrina.com.br/online/conteudo.phtml?tl=1&id=1001476&tit=Observatorio-faz-diagnostico-dos-agrotoxicos

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