quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O crescimento dos orgânicos

Alimentos ecológicos são opção saudável ao corpo, ao meio ambiente e à agricultura familiar.



Os produtos orgânicos já caíram na boca do consumidor - tanto como assunto, quanto como item do cardápio. No Brasil, o número de "clientes ecológicos" cresce. E a produção busca expandir cada vez mais a clientela, ainda considerada baixa no país em comparação com o número de produtores. Dados do IBGE apontam 90 mil agricultores de orgânicos no país.
Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo. Fica em primeiro lugar na lista de consumo na América Latina. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária comprovou que 22,17% das frutas, verduras e legumes vendidos em supermercados têm agrotóxicos em excesso. Entre os alimentos com maior quantidade de resíduos químicos, a ANVISA aponta morango, tomate, mamão, maçã, banana, alface, pimentão, cenoura e batata.
Mas agricultores ecológicos afirmam: o consumo de orgânicos no país está em expansão. Alguns supermercados já possuem sessões de orgânicos e feira ecológicas pelo país veem o movimento aumentar. A coordenadora da Comissão da Produção Orgânica no RS, Angela Escosteguy, ressalta: "O Ministério da Agricultura estimava entre 15 e 20 mil produtores orgânicos. Fomos surpreendidos pelos números do IBGE. Passamos a utilizar esse dado, mas lembramos que esses 90 mil são orgânicos por autodefinição, não foi feita ainda constatação técnica de que todos sejam ecológicos".
Para regulamentar o setor, o Ministério da Agricultura deve concluir até o final deste ano um cadastramento de todos os produtores orgânicos no Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SISORG). A partir de 2011, a organicidade dos alimentos vai ser comprovada através de um selo do SISORG na embalagem do produto.
Na Europa, o mercado da produção orgânica já se consolidou. O comércio possui a versão orgânica de, praticamente, todos os produtos convencionais. O consumidor paga um pouco mais, mas prefere garantir a qualidade do alimento que consome. A União Europeia (UE) exige que a partir de junho deste ano todos os orgânicos produzidos nos países integrantes da UE contenham nas embalagens um selo padrão que certifique o produto como orgânico.
Diferenças da produção
Os alimentos orgânicos – também chamados de ecológicos, biodinâmicos ou agroecológicos – são produzidos sem fertilizantes químicos, agrotóxicos, transgênicos, hormônios artificiais e conservantes. Para manejo e controle de pragas, a produção orgânica utiliza insumos naturais e biofertilizantes.
Tanto produtos vegetais quanto animais podem ser orgânicos. Basta que a produção seja totalmente isenta de qualquer substância sintética.
Criação de galinhas ao ar livre e com ração natural resulta em carne e ovos orgânicos.
O sistema ecológico utiliza recursos naturais e humanos de maneira equilibrada. Por isso, os benefícios dos orgânicos não se resumem somente à saúde. A agricultura é considerada sustentável por não agredir o meio ambiente, usar o solo sem degradá-lo, respeitar as épocas de cultivo de cada espécie, mater a diversidade de plantas e animais em um ecossistema equilibrado e evitar contaminação e desperdício dos recursos naturais.
Enquanto a agricultura convencional produz dois ou três tipos de alimento através da monocultura, a produção orgânica cultiva de 15 a 18 produtos ao mesmo tempo. Além disso, a agroecologia prioriza a qualidade de vida dos produtores rurais e incentiva a agricultura familiar, a qual produz 70% dos alimentos consumidos no país.
Orgânicos e a saúde
Não há comprovação científica de prejuízos à saúde de quem consome produtos cultivados com agrotóxicos. Mas os benefícios dos orgânicos foram apontados pela Agência Francesa de Alimentação (AFSSA). Pesquisa do instituto, em setembro de 2009, concluiu que produtos vegetais orgânicos têm mais matéria seca e minerais, como ferro e magnésio, e mais polifenóis antioxidantes, como ácido salicílico. O aroma e o sabor são comprovadamente mais acentuados, já que os alimentos são produzidos em um solo mais rico e equilibrado.
Estudo dos EUA apontou que o milho orgânico possui 58% mais componentes polifenólicos, que ajudam a proteger o coração. Tomate, morango e amora orgânicos contêm cerca de 20% mais polifenóis que os convencionais. Outra pesquisa americana, do Organic Center, em 2008, concluiu que alimentos orgânicos possuem em média 25% mais nutrientes que os convencionais, especialmente vitamina C, antioxidantes e proteínas.
Produtos orgânicos de origem animal contêm mais gorduras polinsaturadas, benéficas para o organismo. Os alimentos convencionais têm mais nitrogênio, que, em excesso, pode conter compostos cancerígenos.
Já as conseqüências do uso de agrotóxicos para a saúde dos agricultores foram comprovadas. Na serra gaúcha, uma pesquisa confirmou a relação entre a intoxicação por agrotóxicos e transtornos psiquiátricos, como depressão. Estudos no Egito demonstraram que pessoas que trabalhavam com formulação ou aplicação de agrotóxicos apresentaram distúrbios neurológicos, como neurose depressiva, irritabilidade e disfunção erétil.
Casca orgânica também é alimento
Outro benefício do produto orgânico é a utilização da polpa à casca das frutas e legumes, já que não há agrotóxicos, os quais se concentram majoritariamente na casca do alimento. O consumo dos vegetais em sua totalidade evita o desperdício e permite que se aproveitem todos os nutrientes.
Certificação
Selos privados já fazem a certificação de produtos orgânicos, através de análises e acompanhamento da produção. As certificadoras devem ser credenciadas ao Ministério da Agricultura e trabalhar sob regras internacionais. A certificação é solicitada pelo agricultor. Até 31 de dezembro, os produtores orgânicos devem adequar a cadeia produtiva às regras estabelecidas pelo SISORG.
Para que seja comprovada a organicidade dos alimentos, o Ministério da Agricultura vai analisar os diversos aspectos do cultivo de cada propriedade. Se comprovado orgânico, o alimento vai levar o selo "Produto Orgânico Brasil" na embalagem. Os alimentos vendidos diretamente pelos agricultores familiares, especialmente em feiras, não necessitam da comprovação através do selo. A dica, nesses casos, é para que o consumidor opte por produtos típicos de cada estação (Clique aqui para saber a época de cada vegetal.)
Sobre agrotóxicos
Produzidos a partir do petróleo ou de moléculas químicas (polímeros), os agrotóxicos começaram a ser usados na agricultura na década de 60, com o intuito de aumentar a produção de alimentos. São feitos em laboratório e têm alto potencial de controle de bactérias, fungos e pragas. São populares porque aumentam a produtividade, além de deixarem os alimentos maiores e mais bonitos.
O uso se intensificou com monoculturas como soja, milho e café. Segundo o Departamento de Agricultura da Organização das Nações Unidas (FAO), a tendência causou perda da biodiversidade: monoculturas se tornaram mais produtivas com os agrotóxicos e outras variedades vegetais deixaram de ser cultivadas.
Os chamados "venenos agrícolas" também causaram degradação ambiental pela contaminação do solo e lençóis freáticos. Outro problema apontado pelo FAO decorrente do uso desses defensivos é o êxodo rural. Pequenos agricultores não conseguiram acompanhar a industrialização da produção em larga escala e, com isso, deixaram a área rural.
Problemas ocorreram também na saúde do agricultor. Muitos produtores que trabalhavam com aplicação de agrotóxicos nas lavouras apresentaram sintomas como dores de cabeça e estômago, sonolência, alergias e até doenças mais graves, como paralisias e câncer.
Apesar de a ciência não confirmar que produtos da agricultura convencional sejam prejudiciais à saúde, o alimento orgânico garante segurança ao corpo e ao meio ambiente, como ressalta o superintendente federal de Agricultura no RS, Francisco Signor: "os sinais dados pela natureza mostram que é preciso por em prática a agricultura orgânica, a qual é um processo inovador que representa mais respeito à natureza e às pessoas”.


Fonte: http://www.programavidaorganica.com.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=312:alimentos-organicos&catid=37:noticias-organicos&Itemid=170

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